Oficina Intermunicipal com meninas sobre relações de Gênero

19/09/2018
Oficina Intermunicipal com meninas sobre relações de Gênero

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A luta não pode parar. Mariele Vive!

A expressão acima, reafirma a vontade de seguir lutando pelos direitos e principalmente pela dignidade humana. Os reflexos dessa busca estão nas bases, comunidades e municípios, especialmente nos Territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe, onde há um grande número de mulheres aguerridas e solidárias umas com as outras que militam para a transformação da sociedade que ainda julga e condena por causa da cor da pele, do cabelo, do jeito, e como se não bastasse, por ser mulher. Tratando desses dois Territórios, o Movimento de Organização Comunitária (MOC), através do Programa de Gênero (PGEN) fortalece o debate trazendo temas cruciais para o enfrentamento da violação dos direitos, especialmente, das mulheres negras e pontuam as relações de gênero, violência, desigualdade e racismo.

Assim, as ações para aprimorar o conhecimento e a partilha coletiva o MOC promoveu, numa parceria com o projeto de Vínculos Parceiros por um Sertão Justo apoiado pela ACTIONAID, nos dias 18 e 19 de setembro, no município de Conceição do Coité, a Oficina Intermunicipal com meninas sobre: relações de Gênero e desigualdades, a questão racial e a violação dos direitos das mulheres e meninas negras. Com público de mulheres, jovens e adolescentes a oficina tem como objetivo contribuir para a formação política de meninas e mulheres para que possam incidir nos espaços de construção e de controle social das políticas públicas de modo que promovam a igualdade de gênero e raça e dignidade da vida.

“É importante discutir gênero, desigualdade e etnia racial, pra mim ter novos conhecimentos”. A fala é da adolescente, Natilele de Oliveira, 15 anos, da comunidade de Boa Vista de Aroeira, município de Conceição do Coité, ela destaca o quanto as oficinas contribuem no processo (in)formativo. “Hoje já tenho uma nova visão, outra crítica política a partir desses eventos”, ressalta.

Essas ações, ainda aprofundam o entendimento sobre as desigualdades de gênero e raça, o contexto das vivencias e constrói saberes coletivos sobre o feminismo negro além de fortalecer o empoderamento das meninas e mulheres negras. Para isso, se faz necessário, também, criar estratégias coletivas e individuais de resistência e superação do racismo que afeta diretamente a vida dessas meninas e mulheres.

Nesse contexto, segundo a facilitadora da oficina a jovem feminista Gabriela Monteiro, Educadora do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTRN) e mestranda em gênero mulheres e feminismos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), trouxe para debate a provocação sobre as mais diversas identidades e a valorização das histórias de cada uma, bem como, dialogar sobre a aculturação do racismo e das desigualdades de gênero. “A gente está aqui juntas para conversar sobre gênero e sobre raça. São duas discussões que não podem acontecer de forma separada, eu não escolho sair hoje de casa e sofrer uma agressão por ser mulher e aí amanhã eu vou sofrer uma opressão por ser negra, não é assim que funciona”.

Gabi, cita a necessidade de fortalecer as formações políticas em meio a tanto ódio vivenciado no país. “As opressões elas se entrecruzam, então a gente precisa se desafiar, lançar um olhar sobre as estruturas de desigualdade que atingem diretamente a gente e juntas fortalecemos as lutas, as nossas identidades e das nossas histórias”. 

Para Selma Glória, coordenadora do Programa de Gênero do MOC, reforça que as formações política dão sustentação para as mulheres especialmente a da zona rural que sofrem muito mais com patriarcado e com a violação dos seus direitos. “Essas meninas e essas mulheres participam de forma contundente diante da realidade que elas vivem e buscam nesses espaços de formação agregar conhecimentos e fortalecer as lutas nas suas comunidades”, conclui.

“Gênero está presente em tudo, principalmente pela diversidade, precisamos discutir gênero nas escolas, nos povoados, dentro da nossa casa porque o preconceito está enraizado na gente e precisamos discutir sobre”, fala de Camila Vitória, do município de Riachão do Jacuípe.

Durante os dois dias, o grupo fez místicas, debates, dialogaram e se divertiram. Sentiram, viveram e compartilharam as dores e alegrias dos depoimentos de cada história contada, sentiram o cansaço das lutas e ainda assim abraçaram a luta de cada uma. Lembraram de que ainda há muito por fazer, mesmo com algumas vitórias, muitos dias ainda virão.

Como na música, Afrontamento, de Tássia Reis:

“Num quadro triste, realista
Numa sociedade machista
As oportunidades são racistas
São dois pontos a menos pra mim
É difícil jogar
Quando as regras servem pra decretar o meu fim”

É fundamental fortalecer as pontes, as articulações e os vínculos entre mulheres para confrontar todas e quais quer formas de preconceito e violação dos direitos de meninas e mulheres negras.





Por Kívia Caneiro
Comunicóloga
Programa de Comunicação do MOC