JAPES re-constrói saberes e experiências do semi-árido

17/12/2004

Na III JAPES - Jornada Avaliativa de Projetos Econômicos, Educativos e Sociais que aconteceu de 15 a 17 de dezembro em Feira de Santana, os mais de 200 participantes puderam conferir e debater algumas das expriências que estão mudando a realidade do semi-árido baiano.

Agricultores e agricultoras familiares, educadores, jovens e muitos outros atores contaram como estão dando uma nova "cara" ao sertão baiano. Trocando e debatendo suas experiências, abriram-se novas perspectivas para as práticas dos grupos, seja nas áreas de educação, de comercialização, de crédito fundiário, comunicação ou na hora de aplicar técnicas agrícoloas adaptadas ao semi-árido.

"Nós saímos da JAPES convencidos que temos muitos saberes. E que o saber não está só na universidade e sim está no rádio, na cooperativa, na roça", ressaltou o secretário executivo do MOC. "Todos nós pudemos ensinar e aprender e tenho certeza que saímos daqui mais ricos. Tem coisas muito impressionantes que escutamos nos debates e no carrossel."

Conheça cada experiência apresentada no evento

Geração de Renda

Agricultores familiares descobrem na venda de ovos para o PETI uma alternativa de geração de renda - Uma importante conquista do PETI em Serrinha, foi a inserção de produtos da agricultura familiar na alimentação das Jornadas Ampliadas. A substituição da gordurosa calabresa por ovos de galinha caipira esta garantindo mais qualidade e nutrição na merenda da garotada, e também gerando renda para as famílias produtoras, que agora tem mercado garantido e preço justo. A iniciativa surgiu com a mobilização do Grupo Gestor e mudando a realidade local. "Melhorou na hora de vender, pois, é só entregar a coordenadora" diz D. Terezinha Souza, uma das produtoras. Com a garantia de mercado, as famílias podem se empenhar para aumentar a produção, reforça ela. Dona Palmira Moreira concorda e lembra que antes tinha de aventurar a vendagem dos ovos na feira livre. "O dinheiro que recebo dá para comprar alguma coisa para casa e também comprar ração para as galinhas" conta risonha.

Gestão Social

Associações Comunitárias desvendam os mistérios da cidadania com eficiência - João Nilton Ferreira, morador e líder comunitário do Assentamento Nova Palmares, em Conceição do Coité relembra com orgulho das dificuldades de quando começaram a criação da comunidade, há sete anos atrás. "Faltava tudo. E a solução foi criar a associação".
Hoje, Nova Palmares tem sido uma referência para os movimentos sociais da região pelo modelo de gestão que estão implementando. Segundo João, todos os recursos conquistados pela associação são administrados de maneira que a comunidade decida e participe sobre onde e como vai ser investido. "Esse é o momento de mostrar a realidade de um assentamento e a convivência de 850 pessoas que trabalham com um só objetivo, o desenvolvimento sustentável do pedaço de chão que a gente conquistou", assegura.

Convivência com o Semi-árido

Quixabeira re-inventa técnicas de convivência com o semi-árido - No sertão da região Jacuípe, agricultores e agricultoras familiares de Quixabeira vêm demonstrando que é possível conviver com o semi-árido. A história começou em 1997 com o Projeto Conviver. A iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da Pastoral da Terra da Diocese de Senhor do Bonfim queria melhorar as condições de vida do homem do campo e evitar o êxodo rural.

Hoje, atende mais de 130 famílias em cerca de 20 comunidades nos municípios de Quixabeira, Capim Grosso, Serrolândia, Jacobina e São José do Jacuípe. Quem participa do Projeto tem treinamentos, cursos e viagens de estudo sobre manejo da propriedade e dos criatórios de animais. Uma das metas é viabilizar o acesso das comunidades rurais à infra-estrutura econômica e de apoio à produção.

Segundo Eliezer de Oliveira, coordenador do Projeto, ''Já foram beneficiadas 134 famílias com o financiamento de caprinos, ovinos, apicultura e piscicultura, melhorando a renda das famílias envolvidas ". O financiamento pode ser aplicado também na produção de artesanato, doces, licores, biscoitos de goma além de outros.
Um dos grandes destaques do Projeto é a produção de feno e silagem, uma alternativa usada para guardar alimentos para os animais para o período de estiagem, podendo assim garantir a sustentabilidade da agricultura.

Comunicação Comunitária

Araci faz da comunicação arma na luta por um município decente - Uma rádio que faz barulho. É assim que os moradores do município de Araci falam da rádio comunitária Cultura FM. Mas não é da qualidade do som que eles estão falando... "Não tem um único dia que a rádio não pegue no pé das autoridades. Eles estão atentos a tudo o que acontece no município e passam isso pra gente", conta um morador. O comentário é resultado do trabalho dos comunicadores comunitários do município.

Um exemplo foi a atuação nas eleições 2004, que em parceria com a comunidade e a Justiça Eleitoral fizeram matérias sobre a responsabilidade do voto e denúncias sobre as práticas dos candidatos. O trabalho conquistou o reconhecido do público e também dos movimentos sociais. "Hoje os conselhos municipais, como o de Educação e os gestores do PETI não fazem uma reunião sem a gente. Eles sabem que é importante que toda a comunidade esteja atenta pro que está acontecendo. Por isso apóia a gente", aposta Valmir Barreto e Renildo Carvalho, jovens comunicadores de Araci.

Recursos Hídricos

Construção de cisternas é tema de vídeo - No dia 15 de dezembro foi lançado, durante III Jornada Avaliativa de Projetos Econômicos, Educativos e Sociais (JAPES) em Feira de Santana, o vídeo "Água e Cidadania - a experiência da construção de cisternas no semi-árido da Bahia". O documentário traz o relato de famílias, lideranças comunitárias, pedreiros e tantos outros atores e atrizes sociais que estão mudando a imagem de um sertão seco e sofrido. Aos poucos, o processo de construção de cisterna está transformando esta paisagem.

A cada cisterna construída, surge um novo conceito de participação social, uma possibilidade de conviver e viver com dignidade no semi-árido. Não é só água potável que as cisternas estão espalhando pelo sertão... Tudo isso e muito mais pode ser visto no documentário de onze minutos, produzido pelo Programa de Comunicação do MOC em parceria com a Amanco e a Solvay Idupa, e apoio da ASA - P1MC e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Adolescente passa a freqüentar escola depois do P1MC - Estima-se que no semi-árido uma família gasta em média uma hora por dia para buscar água nos açudes. Com a construção de cisternas do lado de casa, que captam e armazenam a água de chuva, as famílias têm mais tempo para desenvolver outras atividades. Para as crianças, ficou mais fácil frequentar a escola, como conta a garota Verônica Brandão, de 14 anos, que vive na comunidade de Salgado no município de Serrinha, a 65 km de Feira de Santana, onde o MOC desenvolve o Programa 1 Milhão de Cisternas e o Projeto Cabra Escola.

Educação do Campo

Educadores de Nova Fátima descobrem semente do desenvolvimento sustentável - A idéia começou com uma árvore. Hoje, educadores de jornadas ampliadas, do Baú de Leitura e do Projetos Conhecer, Analisar e Transformar (CAT) do município de Nova Fátima estão trabalhando juntos com o objetivo de fortalecer a convivência com o semi-árido. "A idéia inicial era unificar as ações e formar parcerias com a rede pública do município para fortalecer a apicultura, através do plantio de árvores frutíferas. A gente queria trabalhar em sala de aula o tema do desenvolvimento sustentável", conta Vandalva Oliveira, coordenadora de monitores do município.

Eles criaram um Núcleo de Leitura e agora integraram os trabalhos da Jornada e escolas regulares. "Para isso, contamos com o apoio da prefeitura municipal, em relação a liberação de professores. É muito importante que a gente envolva o poder público para ampliar o impacto das ações" afirma Vandalva. A experiência do núcleo de leitura já é uma referência na educação do município e tem feito a diferença. "A gente percebe a semelhança metodológica existentes nos projetos CAT, Baú e na Jornada, isso reflete nas escolas do município", finaliza a educadora.

Acesso à Terra

Crédito Fundiário ajuda na conquista da terra - Dona Vaneide Oliveira, não vê a hora de conquistar seu pedacinho de terra. Integrante da Associação Viver no Campo ela apronta os preparativos para morar em Morro do Chapéu. Ela é uma da contempladas do Programa Crédito Fundiário, que tem como objetivo contribuir para a redução da pobreza rural no Nordeste e em Estados do Sudeste e do Sul do Brasil.

Hoje fazem parte do programa cerca de 1200 famílias que participaram de formações específicas. Para Dona Vaneide Oliveira, uma das contempladas em Feira de Santana, "os módulos me ajudaram a entender que não preciso sair da minha propriedade para gerar renda".
Para se inserirem no Programa, as famílias se organizam em associações comunitárias. Para seu Severo Amorim, da comunidade de Butirama, essa a grande lição do Programa. "A gente ta descobrindo que só conseguimos fazer as coisas porque estamos tudo junto. Pode dá até mais trabalho, mais que sai melhor, sai", aposta.

Na Região do Sisal, o projeto é desenvolvido pelo MOC em parceria com os Governos Federal e Estadual, além das parcerias municipais.