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A Trajetória de Maria Baía: Protagonismo Feminino e Inovação com PANCs no Semiárido
20/01/2025
Em Santaluz, no coração do semiárido baiano, uma
agricultora vem transformando a relação da comunidade com os preciosos recursos
do bioma Caatinga. Maria Baía, moradora do Assentamento de Rose, encontrou nas
Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) uma forma criativa e sustentável
de valorizar os recursos naturais, fortalecendo a segurança alimentar e
promovendo uma alimentação mais saudável. Seu trabalho resgata a riqueza da
Caatinga e inspira novas possibilidades para o futuro.
“Sou agricultora aqui de Santaluz e trabalho com
as PANCs, essas plantas que muita gente chama de 'mato'. Todo esse conhecimento
que eu tenho veio de um senhor que me deu uma orientação lá em 2004. Ele me
pediu pra fazer uma comida diferente, mais natural. Aí, eu pensei nos cactos, que
são frutos bem gostosos, e me perguntei: 'Por que não aproveitar esses cactos
no lugar da carne?' E foi assim que comecei a trabalhar com eles, usando a
criatividade pra transformar em comida boa e saudável, e também ajudar o
pessoal da comunidade”, conta Baía.
Desde então, ela vem dedicando sua vida a
explorar o potencial das plantas nativas do bioma, criando pratos que aliam
sabor, valor nutricional e sustentabilidade. Porém, o trabalho de Baía não está
isento de desafios. Ela explica que ainda não possui condições de realizar o
manejo ou cultivo das PANCs, mas se dedica a coletá-las diretamente da
Caatinga, observando o tempo correto para a colheita: “Eu não tenho um manejo
de plantio das plantas porque nunca fiz esse tipo de cultivo. Eu, sozinha, não
tenho condições de plantar, mas eu colho as plantas direto da Caatinga.
Trabalho assim, mas sempre penso que um dia alguém vai me ajudar a plantar
também.”
A falta de recursos hídricos é outra barreira
enfrentada pela agricultora. “Aqui no nosso sertão é muito seco, né? E as
plantas precisam de água pra se manter. Se a gente fizer o plantio e não tiver
como cuidar com água, elas não vão resistir. Você vê hoje, se chegar na
Caatinga, dá até dó. O mandacaru tá todo murcho, o xique-xique, a babosa...
tudo sem carne, tudo magro. A gente precisa ter água pra essas plantas se
manterem e pra que o trabalho na terra seja mais forte e duradouro.”
Apesar das dificuldades, Baía segue inspirando a
comunidade com suas receitas inovadoras. “A gente sabia que plantas como o
mandacaru e o xique-xique, antigamente, eram vistas só como comida pra animal,
né? Não dávamos valor nenhum a elas, mas não sabíamos o quanto estávamos
perdendo em termos de saúde. Hoje, sei que a babosa, por exemplo, é muito
medicinal. A natureza nos dá tantas opções saudáveis, e nós precisamos
valorizar isso.”
O protagonismo feminino também é um pilar importante de sua história. Baía já capacitou 10 mulheres da comunidade em cursos sobre o uso das PANCs. “Eu tenho muito orgulho do meu trabalho aqui. Já capacitei 10 mulheres com um curso que dei, e embora nem todas tenham recebido o certificado, todas aprenderam muito. Agora, estou planejando trabalhar com mais pessoas, se Deus quiser.”
O impacto de seu trabalho foi consolidado em um
livro, que marca o início de sua jornada: “Eu também tenho um livro publicado,
mas ele é pequeno, focado mais na palma, porque foi no início do meu trabalho
com os cactos. Esse livro foi escrito de forma simples, cada receita eu anotava
no papel, conforme ia fazendo. Hoje, tenho muitas mais receitas e penso até em
fazer outro livro, porque as receitas aumentaram muito, não são mais poucas
como no começo.”
Entre as receitas mais populares estão pratos
como moqueca de camarão com mandacaru, xique-xique com peixe, e sobremesas como
sorvete de babosa, que conquistam tanto pela criatividade quanto pelo sabor.
“Eu vejo meu trabalho como um 'trabalho de
formiguinha', porque a cada dia descubro algo novo. Desde 2004, venho criando
pratos alternativos, com várias receitas, tanto doces quanto salgadas, e cada
matéria-prima me permite explorar novas possibilidades. Sou muito grata a Deus
por esse dom”, finaliza.
Baía é um exemplo vivo de como a agroecologia e o protagonismo feminino podem transformar vidas no semiárido, onde a sabedoria ancestral e a resiliência humana se encontram para promover uma convivência harmoniosa com a Caatinga. Ela, como guardiã desse bioma único, encontra nas plantas nativas um tesouro de sustento e aprendizado, mostrando que é possível viver bem no semiárido ao respeitar e valorizar seus recursos. Cada planta, como o cacto, o mandacaru e o xique-xique, é uma prova da adaptação e da generosidade da natureza, capaz de oferecer alimentos e remédios quando manejados com conhecimento. O trabalho de Baía é um tributo à biodiversidade da Caatinga, que, longe de ser um desafio, revela-se como um ambiente rico em oportunidades para quem sabe conviver com suas riquezas. Ao compartilhar seu saber, Baía inspira não apenas mulheres, mas todas as pessoas que buscam um modo de vida mais sustentável e conectado com a natureza, mostrando que é possível prosperar com criatividade, respeito e inovação.