Sisal: fonte de renda para o semi-árido

14/12/2005

O Sisal é uma fibra têxtil extraída das folhas do agave (Sisalana Perrine, Amarilidaceae) e originário da peninsula de Yukatan, no México. No Brasil, o sisal começou a ser cultivado em 1903, na Paraíba. Nos dias atuais, aexploração do sisal concentra-se no Nordeste, geralmente, em áreas onde as condições de clima e solo são poucos favoráveis ou de escassas alternativas para a exploração de outras culturas que ofereçam resultados econômicos satisfatórios. Os Estados da Bahia (92%), Paraíba (5%) e Rio Grande do Norte (3%) são os maiores produtores da planta no Brasil, sendo que na Paraíba o sisal se constitui como principal produto da exportação, e na Bahia, é o quinto produto em tremos de importância econômica.

Na região sisaleira, situada no nordeste da Bahia, a planta do sisal chegou em 1910, no município de Santa Luz. Segundo Nelci Lima da Cruz, poeta e escritor do município, o sisal foi importado da Paraíba para a fazenda Bebedouro em Santa Luz. A partir daí, a planta progrediu se expandindo para toda região. Os municípios de Santa Luz, São Domingos, Valente e Conceição do Coité são os que mais se destacaram na produção e cultivo do sisal e se tornaram referências nessa área.

Nelci começou a trabalhar no campo do sisal com 10 anos de idade e hoje relembra o que viveu: "O sisal era extraído através do farracho (maquinário manuseável usado como desfibradora). Em 1950, foi criado o primeiro motor de sisal, conhecido como usina, porém, o processo de extração era muito lento. Hoje já temos a "Paraibana" e outros motores que facilitam este processo, apesar dos riscos", enfatiza.

Adalberto Luiz Cantalinodad, da diretoria científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), demonstra que o cultivo do sisal tem uma importância econômica e social considerável para o Estado, uma vez levado em consideração a promoção de oportunidade de geração de emprego e renda e a desconcentração espacial do produto interno bruto (PIB). Além disso, é um potencial em termos de exportação, principalmente no semi-árido baiano que está entre as regiões mais secas do nordeste brasileiro. O pesquisador avalia que o setor do sisal pode também se integrar com outras atividades econômicas: "A fibra é industrializada e convertida em corda, barbante, tapetes, sacos, bolsas, chapéus, vassouras, bem como no artesanato; além disso, tem utilização industrial na fabricação de pasta celulósica além da indústria de plásticos reforçados", afirma.

Uma das regiões baianas que mais trabalham na produção do sisal é a região sisaleira. Assim denominada justamente pelo grande impacto econômico, social e de geração de oportunidade de trabalho no campo provido de seu cultivo. A Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (APAEB), situada no município de Valente é nome de destaque no desenvolvimento da cadeia produtiva do sisal. A associação arrecada por mês, cerca de 400 toneladas de sisal. Além de Valente, a entidade compra o sisal aos produtores dos municípios de Santa Luz e Conceição do Coité. Essa movimentação gera na economia da região aproximadamente 384 mil de reais por ano. O sisal é destinado à indústria de tapetes e carpetes da APAEB, que atualmente emprega 815 pessoas indiretamente e gera mais de 2000 empregos. Na fábrica, o sisal é transformado em tapetes e exportado para outros paises como a Europa, os Estados Unidos, Chile e Argentina.

Para o diretor executivo da APAEB, Ismael Ferreira, há uma escassez de investimentos governamentais na cadeia produtiva do sisal: "Falta vontade política para que possamos aproveitar melhor a fibra. O seu resíduo pode ser misturado à ração animal, o líquido serve como matéria-prima para a indústria farmacêutica. Hoje, apenas 8% do vegetal é aproveitado", revela Ismael.

Um dos grandes desafios enfrentado pelos produtores de sisal é a máquina na qual é feito o desfibramento, conhecido como motor de sisal. Cerca de duas mil pessoas já formam prejudicadas pelo uso do instrumento nos municípios cultivadores da planta. Ainda em fase de experimentação, a APAEB desenvolveu uma máquina que, segundo os técnicos, evitará a mutilação e poderá substituir o motor.

Fator Político

Em uma região castigada pela seca, a cadeia produtiva do sisal é um dos fatores econômicos mais fortes. A renda per capita no território sisaleiro é de R$ 80,57. A maior atividade produtiva, a comercialização do sisal, sofre com a falta de incentivos políticos. Com esforço e dedicação, as entidades da sociedade cível vêm buscando alternativas para melhorar a qualidade de vida do produtor e do processo de trabalho que envolve o sisal.

Apartir dos anos 50, o sisal nesta região vem sendo pautado por diversas organizações do campo popular, com o intuito de buscar perspectivas para o fortalecimento dessa cadeia. É o que espera o lavrador Alfredo Gonçalves Silva, do município de Retirolândia: "Nós temos muitas dificuldades de trabalhar, principalmente quando falta chuva. Precisamos que os políticos, de modo geral, olhem para nossa situação", reivindica. Alfredo é plantador de sisal há mais de dez anos e sustenta a família com o recurso das vendas de sisal.

Apesar das expectativas em torno da revitalização do sisal, ainda há muitos casos de desesperança entre os trabalhadores rurais que lidam com esse ramo, mesmo o sisal sendo uma das poucas fontes de renda, principalmente na região sisaleira. Edimilson da Conceição, morador da comunidade de Uberlândia no município de Retirolândia, trabalha de segunda a sábado na função de resideiro, mas acaba fazendo de tudo um pouco no processo de trabalho com o sisal. "Eu não tenho escolha, nem também acho ruim. O que mais complica para nós aqui, é a chegada do verão, pois, não temos materiais necessários para execução do trabalho" revela o trabalhador rural emocionado.

A realidade apontada por estes trabalhadores desafia a cada dia a região do sisal e as organizações populares a buscarem alternativas de melhoria na qualidade de vida no que diz respeito ao trabalho no campo. Desde 2003 estão sendo discutidas com representantes da sociedade civil e poderes públicos através do Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável do Território Sisaleiro (CODES Sisal) políticas públicas que garantam a melhoria na qualidade de vida desses agricultores rurais. A revitalização da cadeia produtiva do sisal é um dos grandes desafios enfrentado no CODES Sisal. "Defendemos aspectos importantes para região como o plantio e replantio do sisal. Solicitamos aos Bancos Nordeste e do Brasil a quantia de 15 milhões de reais para serem destinados ao desenvolvimento do sisal na região", enfatiza Urbano Carvalho, Presidente do Conselho. Algumas questões estão sendo encaminhadas, como por exemplo, a criação do Grupo Técnico Interministerial do Sisal (GTIS) criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no intuito de promover e amadurecer estratégias de ação para o desenvolvimento sustentável do território sisaleiro. O GTIS é composto por vários órgãos dos Ministérios e possui como público alvo de sua atuação os agricultores familiares, bem as organizações ligadas ao sistema de produção do sisal.

Dias melhores

A falta de equipamentos, má qualidade do produto e o risco de mutilação do operador no desfibramento, dentre outros fatores incitaram o Governo da Bahia a criar o Programa "Nossa Fibra", que segundo Eduardo Silva, representante da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário (EBDA), pretende recuperar a cultura do sisal nas regiões a serem atendidas, além de promover a assistência técnica e capacitar produtores para aumentar a oferta de fibra de qualidade no mercado. O programa pretende estimular os produtores de sisal a promover ajustes no sistema de produção, de modo a aumentar a sua produtividade em bases sustentáveis, criando condições para o aumento da renda, como meio de melhorar as condições de vida na zona rural da Bahia.

Os investimentos serão feitos na diversificação de produtos, abertura de novos mercados, capacitação de empresas e fortalecimento da cadeia produtiva do sisal. A proposta é que cerca de 600 mil pessoas que trabalham no seguimento do sisal sejam beneficiadas. O Programa prevê a recuperação de 35 mil hectares de sisal, pôr em funcionamento 200 motores, implantar duas unidades de pesquisa nos regiões do Nordeste e Piemonte, além de instalar quatro batedeiras comunitárias e oito unidades didáticas. Estão no foco de contemplação das ações do programa 50 municípios da região Sisaleira da Bahia, distribuídos nos pólos Piemonte, Nordeste, Paraguaçu e três municípios da região de Irecê. (Agência Mandacaru)