Tesouro escondido em Retirolândia na Bahia

15/03/2005

A quatro quilômetros da sede do município de Retirolândia tem "um tesouro escondido", desde abril de 2002. O tesouro de quem mora no sertão é a água da chuva que pode ser retida e preservada para os longos períodos de seca que caracterizam a região. Completando três anos de experiência com uma barragem subterrânea, Manoel Ferreira de Santana, de 60 anos, é conhecido na comunidade rural de Baixa do Couro como Missias e respeitado por ser um dos poucos produtores que não precisam de cesta básica e da "frente produtiva" para sobreviver.

Mesmo na seca, Missias consegue garantir o sustento para ele, a mulher Dona Helena Ferreira e os filhos. Em pouco mais de uma tarefa de terra, ele produz feijão, mandioca, milho, banana, tempero verde, quiabo, maxixe, mamão, melancia, acerola, cirigüela e abóbora. Já plantou também mangueira, cajueiro e goiabeira - árvores que ainda vão demorar alguns anos para frutificar.

O segredo do sucesso é a barragem subterrânea, uma tecnologia desenvolvida pelo Programa de Aplicação de Tecnologia Apropriada às Comunidades (Patac), uma entidade paraibana. Para construir basta encontrar um solo com relevo adequado, cavar um buraco até a rocha com largura de 60 centímetros e 30 metros ou mais de comprimento, impermeabilizar as paredes com argila compactada ou lona plástica e tampar com terra. Depois que chove, a água é represada no subsolo deixando a terra úmida até a superfície.

A barragem de Manoel Ferreira custou R$ 1.080 e foi financiada pelo MOC com o apoio da Catholic Relieve Service (CRS). Hoje o custo da construção está em aproximadamente R$ 2.000. Para Manoel Ferreira, a barragem foi um investimento que mudou a vida da família. "É boa demais. A gente nem esperava isso. Deu muito certo", conta o agricultor. Antes da barragem, na propriedade onde criou seus 14 filhos, só tinha capim par a o gado. Hoje tem produtos para o consumo e até para comercializar na feira livre de Retirolândia quando há excedentes. "O quiabo por exemplo nunca faltou mesmo quando está bem seco como agora", explica Ferreira. Hoje, na propriedade dele há um pequeno banco de sementes dos produtos que são cultivados.

Um dos filhos de Missias Ferreira já desenvolveu um outro sistema de irrigação com gotejamento, dentro do espaço da barragem, onde planta coentro para comercialização.

Muitas pessoas, inclusive de outros países, já visitaram a barragem subterrânea e comprovaram os bons resultados alcançados. Na região do sisal, o MOC, também apoiou a implementação de outras quatro barragens: uma em Serrinha, outra em Santa Luz e duas em Barrocas.