Uma receita de sucesso

10/11/2008

Moradora do Distrito de Jaíba, a trabalhadora rural Rita Nunes de Brito é casada e tem três filhos. Natural do município de Iaçú, chegou à Feira de Santana quando tinha 20 anos e desde então se dedicou a criação dos filhos e às atividades da agricultura familiar. Sua vida não seria muito diferente da de tantas outras mulheres se não fosse por um aspecto que chama a atenção: até pouco tempo atrás ela não tinha conhecimento do que era dinheiro. Mas isto ficou no passado de Rita. Aos 40 anos de idade, ela não sabe ler, mas viu sua vida mudar a cinco anos, quando surgiu o grupo de produção: Mulheres em Movimento. 

Foi a partir do trabalho no grupo, que Rita passou a conhecer a segunda maior cidade da Bahia, distante apenas 12 km de sua casa. “Eu tinha uma vida muito difícil, não conhecia muita gente. Certas coisas eu nem imaginava que existiam e hoje eu já sei. Vivia apenas para a minha família, sem sair de casa. Agora vou a lugares como casa lotérica que eu nem sabia o que era”, diz Rita. 

Há um ano ela comprou um celular, fruto do dinheiro que recebe com a produção, e diz que ainda está aprendendo a usar. Com um sorriso tímido, conta que há pouco tempo foi ao banco na companhia de outra integrante do grupo. “O grupo para mim foi muito bom. Eu não tinha renda própria, só cuidava da casa e dos filhos. A vida começou a mudar em 2003. Um dia desses fui no banco com Miranda, a gente chegou lá e tirou dinheiro. E assim a gente vai aprendendo as coisas”, revela. 

Apesar de afirmar não ter mais idade para aprender a ler e escrever, a produtora a cada dia está conhecendo um mundo novo através do projeto Bocapiu de Leitura, que há um ano estimula as produtoras para que voltem a estudar. Com a sabedoria de quem já viveu muito, ressalta que hoje ela é outra mulher e acrescenta que a família reagiu bem. Orgulhosa com a renda que ganha, ela aponta para o sofá, a mesa e estante e diz que “tudo foi eu que comprei com o meu dinheiro. O marido trabalha, mas não tem aquela vontade de ter as coisas dentro de casa. Quer dizer, ele até tem vontade, mas não pode porque o ganho dele não dá”. 

A união faz a força – O grupo Mulheres em Movimento surgiu da iniciativa de Patrícia Nascimento, atual coordenadora da Rede de Produtoras da Bahia. Patrícia perguntou o que cada mulher sabia fazer e então elas decidiram unir o saber de cada uma. “Quando o grupo começou, a gente não tinha matéria-prima nenhuma para fazer. Cada uma doou uma coisa, açúcar, panela, colher de pau, mamão para fazer o doce, o ralo e aí foi tudo pra frente”, lembra Rita. 

“O grupo começou com 40 pessoas e hoje tem apenas cinco. As mulheres foram desistindo por que em grupo o dinheiro não entra logo. Nenhuma achava que ia para frente. Mas nós acreditamos e hoje estamos aqui. O começo não foi fácil, foi preciso muita persistência. A união foi muito importante para o sucesso do grupo”, diz Miranda de Azevedo. Através do Projeto Mãos que Trabalham, desenvolvido pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC) com o patrocínio da Petrobras, o grupo participou de capacitações e intercâmbios e adquiriu todos os equipamentos necessários para aumentar e qualificar a produção, que antes era vendida apenas no Distrito. Hoje, elas produzem sequilhos, cocadas, bolos, doces e polpas de frutas para a Cooperativa da Rede de Produtoras da Bahia e para o espaço de comercialização, localizado no centro de Feira de Santana. 

O empreendimento do grupo de produção Mulheres em Movimento funciona em um espaço emprestado, mas, por pouco tempo. Em janeiro as produtoras querem iniciar a construção da sede própria, em um terreno doado pelo marido de Mirian Machado, uma das fundadoras do grupo. Mirian afirma que nos últimos meses o lucro obtido com a venda dos produtos não é dividido entre as integrantes. O dinheiro está sendo guardado para comprar material e pagar a mão-de-obra do pedreiro. 

Mulheres Sonhadoras – Os grupos filiados a Rede de Produtoras da Bahia recebem assessoria da equipe técnica do MOC na área de comercialização, onde são orientados
na organização da produção e na busca de novos mercados. Além disto, com o apoio da equipe de gênero aprendem como administrar todo este sucesso dentro de casa, pois, a conquista da independência financeira reflete na relação familiar. 

O apoio da família é fundamental para o bom desempenho das mulheres. Miranda de Azevedo afirma que no início a família questionava o que ela estava fazendo em um grupo que não conseguia ganhar dinheiro. Já a família de Rita e Mirian sempre apoiaram o trabalho. Antes de participarem do grupo, Rita e Mirian, que são casadas, nunca haviam dormido fora de casa. Agora, é normal elas passarem três, quatro dias fora de casa, viajando para conhecer as experiências de outros grupos ou trabalhando no espaço de prestação de serviço da Rede de Produtoras da Bahia, em Feira de Santana. 

“O marido nunca reclamou do trabalho. Hoje eu saio, viajo e ele não fala nada. Hoje eu me sinto uma pessoa realizada”, afirma Rita. Mirian acrescenta que “plantava feijão, criava galinha, porco. Depois da entrada no grupo, a renda melhorou. Após 26 anos de casada, comecei a dormir fora de casa, mas o marido dá o maior apoio, nunca reclamou. Posso dizer que minha auto-estima melhorou 100%”. 

“Minha vida antes do grupo era boa, mas agora está melhor. Era muito tímida, depois comecei a participar das reuniões, a viajar muito e isto foi ótimo. Mudou não apenas minha forma de viver, mas a de muitas mulheres. Já dei até entrevista para a televisão. O pessoal diz que eu fiquei famosa”, orgulha-se Miranda de Azevedo.