Cisterna calçadão melhora sistema produtivo de famílias no Semiárido

10/05/2009

Família que já tinha a acesso à água para consumo humano agora se prepara para melhorar a produção após adquirir cisterna calçadão.
“De primeiro a gente pegava a água com carote, depois adquirimos uma carroça e passamos a pegar água com um tambor”. Dos tempos em que usava o carote, uma espécie de tambor feito de zinco utilizado para transportar água através de um animal, seu Otávio Barreto Araújo só quer recordar, pois hoje a sua realidade é outra.
 
O agricultor que tem 47 anos é morador da comunidade de Campo do Eloi, situada a 35 km do município de Araci, foi contemplado com uma cisterna de consumo humano e outra de produção, e conta como ele e a família estão se desenvolvendo a cada dia.

Desde a juventude sua família passava por dificuldades para ter acesso à água. “Eu ajudava meus pais nas tarefas da roça, e chegava a me deslocar até 6 km para buscar água para consumo”. Logo após ter se casado, Otávio conseguiu construir um pequeno reservatório para armazenar água, mais de acordo com ele, não era suficiente porque não tinha experiência no tratamento da água e nos períodos de estiagem chegava a secar, obrigando ele e a família a pegar água na represa até chover novamente. De acordo com o agricultor, devido à falta de qualidade da água a família passou a ter doenças como diarréia, verminose, uma vez que utilizavam a prática de coar como forma de tratamento. 

Depois que participou dos cursos de gerenciamento em recursos hídricos aprendeu a forma correta de tratar a água. “Mantenho a cisterna sempre fechada, como tem um sistema de bombeamento cuido de usar sempre balde limpo, se acaso a bomba der algum defeito ou quebrar já tenho um balde reservado pra mergulhar na cisterna, além de coar num pano bem limpinho eu uso cloro e essa mesma água uso para beber e cozinhar, pra banho nem pensar”, explica. É importante fazer o tratamento com cloro utilizando duas gotas em cada litro de água. O hipoclorito sódio é distribuído pelos agentes de saúde gratuitamente na comunidade.

Pai de cinco filhos, vivendo com a renda de R$ 200 mensais, mesmo com dificuldades, Otávio sempre se orgulhou de ser agricultor e jamais pensou em sair do campo. Estudou até a 7º série do ensino fundamental e não deu continuidade por falta de incentivo e dificuldade de deslocamento. “No meu tempo não existia transporte escolar, eu enfrentava sol e chuva, andava 6 km a pé ou montado de jegue até que a necessidade aumentou, eu fui ajudar meu pai na roça e não tive como continuar estudando”, relembra. Sendo assim, preferiu manter a esperança de bons tempos chegarem. Em 2006, ele e a irmã, que mora vizinha, tiveram acesso à cisterna de consumo humano através do Projeto Um Milhão de Cisternas (P1MC). Os dois aprenderam novas técnicas de tratamento e cuidado com a água, o que foi um passo fundamental para a qualidade de vida da família. “É bom demais o gosto da água de beber, o sabor da comida nem se compara, nunca mais alguém adoeceu nessa casa”, afirma Otávio.  

Estímulo para produzir - Com esforço e dedicação ele sempre gostou de plantar hortaliças, ressalta que além de reduzir as despesas não há nada melhor do que consumir produto natural, sem agrotóxico. Na propriedade além de hortaliças, ele planta feijão e milho, que utiliza na alimentação da família, cria ovinos, caprinos e galinha, de onde ganha um lucro extra com a venda dos ovos e das hortaliças. Destaca que depois da cisterna em casa ganhou mais tempo, com a água para consumo humano na porta de casa, a do tanque seria apanhada para regar a plantação. “Mais eu só plantava no inverno, no verão não dava pra plantar, porque tinha que cuidar dos animais e a água não dava para tudo”, afirma.

Há cinco meses a vida de Otávio e da família ganhou outro sentido com a chegada da cisterna calçadão, através do Projeto Cisternas, da Articulação do Semiárido Brasileiro, em convênio com a Secretaria de Desenvolvimento e Combate à Pobreza (SEDES) e o Movimento de Organização Comunitária (MOC). Com o reservatório que tem capacidade para armazenar 50 mil litros de água, tem a função de captar água da chuva para a produção. Através de um sistema de bombeamento, a água é utilizada para regar a plantação e também para o consumo animal, além disso, em cima do próprio calçadão seca-se o milho e feijão e outras sementes. Com a cisterna captando água para a produção ele acredita que pode melhorar o sistema produtivo, embora o período de chuva tenha se iniciado há alguns dias, o agricultor fala que o problema da falta de água ficou mais fácil de ser enfrentado. “Através dos cursos eu aprendi outras técnicas, uma delas é como fazer a horta verão e a cobertura do solo, então mesmo no verão já não há mais tanta dificuldade”. E já começou a preparar o adubo para fazer a horta e começar a produzir. 

Ao terminar de comparar a vida de antes com o presente, seus olhos se enchem de lágrimas, mas, permanece o sorriso de homem autêntico, corajoso e cheio de anseios. Mesmo se considerando um “matuto”, reconhece que a educação é o melhor caminho para o futuro e sempre está incentivando os filhos a estudarem.