Produção diversificada, sustento garantido

29/12/2005

Na comunidade de Santa Rosa, em Barrocas, no semi-árido da Bahia, uma casa se destaca entre as outras: ela possui um mandacaru desenhado com um grande sol e as palavras "Casa do Sertão". É a casa de Maria Alzamira Ferreira, 41 anos, Celso Avelino Ferreira, 45 anos, e suas três filhas Marielle, Kacielle e Gracielle.

Celso Avelino conta que comprou a terra de três tarefas, plantou, gostou e aos poucos foi aumentando a sua plantação. Seu interesse pela melhoria da propriedade aumentou ainda mais quando, em 2003, participou de uma reunião do Movimento de Organização Comunitária (MOC), que apóia o desenvolvimento sustentável das comunidades no semi-árido baiano. "Antes só quem ia para as reuniões era a minha mulher, agora não perco mais nenhuma. Fui gostando, planejando, melhorando e trabalhando cada vez mais com a minha família sem precisar trabalhar fora", conta satisfeito. Realizado, ele mostra com orgulho as ampliações na cozinha e na dispensa da casa. Com o crédito que recebeu através do Projeto Prosperar II, investiu na horta e no galinheiro.

Crédito impulsionou diversificação da produção

Hoje, a família possui uma horta diversificada, criatório de galinhas, de caprinos, uma roça com plantações de milho, feijão, cana, sorgo e mandioca. Além disso, as sementes são armazenadas na propriedade. Maria Alzamira cuida do criatório de galinhas e ajuda na horta. Com o sorriso no rosto diz: "Graças à Deus não falta nada. A mesa é farta e os alimentos produzidos em casa são saudáveis, tudo natural para a nossa saúde. A vida é bem melhor".

A produção é vendida na feira de Barrocas e também para o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). "Estou vendendo bem e continuo aí na luta", conta Celso orgulhoso. As filhas mais velhas do casal freqüentam a escola e o PETI. Quando estão em casa ajudam a molhar a horta e a vender os produtos na feira. Com o bloco de notas fiscais, a família pretende vender os ovos para o PETI.
Com 15 anos de idade, Kacielle tem orgulho de viver na roça e acompanhar o pai na feira. "O que me deixa feliz é viver em paz aqui. Gosto de ajudar na horta", comenta.

Com a ajuda de Nilda dos Anjos, multiplicadora de Assistência Técnica Rural (ATER) do Projeto Prosperar que mora na comunidade, Celso Avelino aproveita tudo que existe na propriedade. "Eu me sinto realizada quando a gente aprende uma coisa e pode passar para o agricultor praticar, como foi com a compostagem, o feno e a silagem", diz Nilda.

Celso tem a preocupação de passar para os companheiros e companheiras da comunidade o seu conhecimento agroecológico. "Estou sempre convidando o pessoal para conhecer o nosso trabalho, digo a eles que quero que façam isso também no quintal deles e que químico adoece, tudo orgânico é melhor", diz.

Resgate da cultura local

O compromisso e engajamento de Celso e sua família não se limita só à produção agrícola, eles também estão preocupados com o resgate da cultura local. Na Casa do Sertão aconteceu este ano a "Amostra de arte do antepassado", organizada por Celso Avelino pela terceira vez. "Todo final de ano, a gente promove uma festa cultural com rodeio, samba de roda, cantigas de roda e uma amostra de arte com as coisas do sertão, para que ninguém esqueça". Com atrações musicais, a "Amostra" é realizada no dia da festa de Santa Luzia, 13 de dezembro, padroeira da comunidade. Nessa data, também é comemorado o nascimento de Luiz Gonzaga, com apresentações e ao som da música Asa Branca. "É uma festa muito bonita", conta Avelino. Sua grande preocupação é poder passar isso para as várias gerações e não deixar morrer a cultura do sertão.