Cisternas do P1MC chegam para 60 famílias de Candeal

15/03/2005

"Tenho uma fontinha muito pequena na minha casa ... com 2 meses não tem mais água. Vou pegar água bem longe com um jeguinho", relata Anísia Carneiro, de 67 anos. Teve 23 filhos e mora na Fazenda Lajedo Grande, em Candeal, na Região Sisaleira da Bahia. Ela é uma das pessoas selecionadas pela comissão municipal de recursos hídricos para receber uma cisterna do segundo lote de mais 60 que serão construídas no município de Candeal, até final de abril, pelo Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC).

Anísia Carneiro disse que sofre muito com a estiagem e a construção do tanque de cimento é a realização de um sonho. O P1MC, coordenado pela Articulação no Semi-Árido (ASA), tem investido na transformação social do semi-árido brasileiro com iniciativas de baixo custo e impactos reais sobre a vida dos sertanejos. O programa está sendo apoiado pela Febraban, pelo Programa Fome Zero do Governo Federal e cerca de 20 organizações nacionais e internacionais.

Até fevereiro de 2005, a ASA havia construído no Semi-Árido do Brasil 69.888 cisternas e 588 estavam em construção. O Semi-Árido se estende por uma área que abrange a maior parte de todos os Estados da Região Nordeste e o norte dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

Antes de receber as cisternas, as famílias são capacitadas para gerenciamento de recursos hídricos. Nos cursos elas aprendem a cuidar melhor da água, limpar a cisterna e economizar água. Segundo dados da ASA cerca de 78 mil famílias já foram capacitadas desde o inicio do programa em 1999. Pela primeira vez o agricultor Celino Almeida, de 32 anos, participa de um curso com essa temática. Segundo ele, na estiagem viaja até três quilômetros para conseguir água para beber. "Eu não tenho como fazer uma cisterna, não tenho condições", afirma Almeida. Morador da Fazenda Santa Rosa, em Candeal, tem esposa e três filhos. Atualmente bebe água em tanques de barro, os mesmos utilizados pelos animais.

Os tanques que serão construídos nas casas de Anísia Carneiro, Celino Almeida e de outras 58 famílias têm capacidade para 16 mil litros, suficientes para garantir água potável para uma família de seis pessoas, bebendo e cozinhando, por pelo menos oito meses. Nas regiões de Feira e Sisal, o Movimento de Organização Comunitária (MOC) é a entidade responsável pela execução do P1MC, através do Programa da Água.

Sistema on-line de prestação de contas gera mais transparência do P1MC

O Sistema de Gestão e Auditoria (SIGA) do Programa Um Milhão de Cisternas é um programa de computador via internet instalado em 51 Unidades Micro-Regionais de gerenciamento do P1MC. Neste sistema são colocadas informações que os parceiros e a sociedade podem acessar para verificar a construção das cisternas e a realização das capacitações. Com servidor central no escritório de Recife, a ASA disponibiliza a quantidade de recursos utilizados, onde e como foram utilizados, com que e/ou com quem foram gastos. No SIGA estão disponíveis nomes, CNPJ ou CPF dos envolvidos nas comissões, nas licitações, vendas de produtos, prestação de serviços e também os beneficiados com o programa.

Segundo Cristiano Cardoso, gestor do sistema em Recife, não é possível haver números de CNPJ ou CPF falsos, pois a toda documentação movimentada precisa ser validada pela Receita Federal. "O Sistema representa transparência e um ganho muito grande nas instituições", afirma Cardoso. Os relatórios mensais do SIGA são publicados no site da ASA: www.asabrasil.org.br

Para Sirleide Rodrigues, gerente administrativa do P1MC no MOC, este sistema é uma importante ferramenta do programa. "Todos os dias estamos lançando informações novas e depois que a central mudou de Brasília para Recife facilitou ainda mais o trabalho, estamos online e assim se torna mais fácil", afirma Rodrigues.

Para Naidison Baptista, Secretário Executivo do MOC e da ASA na Bahia, os resultados do programa e a transparência têm conseguido colocar na mídia e na cabeça dos governantes um novo conceito sobre o Semi-Árido. "Nós somos um povo digno, povo decente e o que precisamos são políticas que respeitem nossa condição de vida", diz Baptista. A participação no P1MC é um orgulho para os funcionários do MOC envolvidos. Sirleide Rodrigues: "eu mim sinto orgulhosa em participar do P1MC, porque as famílias estão realmente precisando de água e a cisterna leva água potável para o quintal das casas delas. Isso é gratificante, porque aqui na operação do sistema também estamos contribuindo para que isso aconteça".

No dia 14 de fevereiro a ASA divulgou novos dados sobre os resultados do P1MC:

71.923
Famílias Mobilizadas
78.010
Famílias Capacitadas em Gerenciamento de Recursos Hídricos
66.979
Pedreiros Capacitados
135
Pedreiros Instrutores Capacitados
352
Multiplicadores de Gerenciamento de Recursos Hídricos Capacitados
59
Animadores Capacitados
586
Capacitados em Confecção de Bomba Manual
878
Recapacitação de Pedreiros
69.888
Cisternas Construídas
588
Cisternas em Construção
866
Municípios atendidos
193
Só na Bahia são municípios beneficiados pelo P1MC