“Esse ENCONASA vai ser marcante para a história da ASA”

06/10/2009

Diaconia – Quais as dificuldades enfrentadas pela população no Semiárido Baiano do passado?

Naidison Baptista – Além da população viver de mendicância e total dependência das pessoas influentes na época, o favorecimento político era uma realidade muito forte do Semiárido Baiano. Grandes famílias que até hoje se constituem como “monarquias políticas”, dada a facilidade com que conseguem votos para se elegerem e elegerem seus parentes, consolidaram seus nomes como tal, em nossa região, graças ao clientelismo da seca. Essa era uma grande e triste marca do Semiárido Baiano do passado.

Diaconia – Como teve início a luta contra a miséria no Semiárido da Bahia?

Naidison Baptista – Logo no início as organizações atuavam contra as condições desumanas em que se vivia no Semiárido, numa lógica emergencial. Nos períodos de seca, nos mobilizávamos, mas, quando passava o período crítico, nós nos desarticulávamos e tudo continuava como era antes.

Diaconia – O que mudou em relação à atuação das organizações baianas pelo desenvolvimento sustentável, após a constituição da ASA?

Naidison Baptista – Tudo. Com a constituição da ASA nós nos fortalecemos com a troca de experiências, com a troca de informações, com a ação articulada e com os projetos. Eu acredito que o P1MC seja o grande responsável pelo fortalecimento do nosso trabalho no Estado, proporcionando inclusive, a divulgação do que fazíamos e o nosso diálogo com o poder público.  O resultado disso, é que a ASA Bahia tem uma forte incidência em políticas públicas, através do P1MC, por exemplo, que está espalhado pelo estado através de iniciativas de âmbito local. Nossa rede também, tem tido a condição de interferir no PPA, no planejamento orçamentário do governo, interferir com a sugestão de programas como o Programa Àgua para Todos, que envolve saneamento e um conjunto de outras tecnologias. Temos uma parceria para formação dos agentes comunitários de saúde para acompanhamento às famílias que utilizam água de cisterna. Estamos negociando um projeto que visa garantir água para produção. Temos elementos de educação contextualizada que começam a se espalhar pelo Estado, provando nossa incidência em políticas públicas.

Diaconia – A Bahia está preparando e vai sediar o VII ENCONASA. Como estão os preparativos e qual a importância desse evento para a nossa celebração de 10 anos de Articulação?

Naidison Baptista – Esse ENCONASA vai ser marcante para a história da ASA. Acredito que nesse evento precisamos fazer no mínimo três coisas. Primeiro dizer para o mundo mais uma vez e de maneira mais incidente, o que é o Semiárido após a presença da ASA. Falar das 1,5 mi de pessoas com o acesso a água de beber, falar da inserção do Semiárido como uma terra de pessoas respeitáveis, fortes e guerreiras. Segundo, precisamos questionar os nossos próprios desafios, de sistematizar mais, de incidir mais em políticas públicas e por fim, não podemos deixar de discutir e botar a nossa boca no trombone contra os elementos que destroem a nossa proposta de convivência com o Semiárido, como por exemplo, a Transposição do rio São Francisco e tantas outras.  Devemos ainda festejar e muito, pois, nossas conquistas merecem também as festividades.

Diaconia – Desde já como estão as comemorações aos 10 anos no estado?

Naidison Baptista – Nós estamos realizando os Encontros Microrregionais e Territoriais visando refletir o significado político, social e econômico produzido pelos 10 anos da ASA na Bahia. Nas demais atividades realizadas individualmente por cada organização essa data sempre está sendo pautada. Nós do MOC, por exemplo, discutimos a questão junto aos (as) professores e professoras com os quais trabalhamos a questão da educação contextualizada e nos encontros do baú de leitura. Desta forma, muitas organizações estão fazendo.

Diaconia – Quais as lembranças que a ASA Bahia quer ter do Semiárido daqui a mais 10 anos?

Naidison Baptista – Daqui a 10 anos nós queremos um Semiárido que seja justo e digno para os seus filhos e filhas. Que a água seja cada vez mais partilha e menos concentrada e que nossa luta pela desconcentração da água continue cada vez mais forte. Que a terra também, seja mais partilhada e menos concentrada. Nosso grande desafio para os próximos dez anos é fortalecer a nossa luta pela desconstrução do Semiárido injusto, para a construção de uma Semiárido próspero, por meio da educação contextualizada, envolvendo professores e professoras, pais, mães e alunos e alunas. Que daqui a 10 anos continuemos cada vez mais unidos (as) e mais fortes, aprendendo uns com os outros e sendo capazes de interferir cada vez mais nas políticas para estas se tornem adequadas a realidade do Semiárido. 

Fonte: Diaconia

 

 

 



 


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