A Marcha das Margaridas 2019 se encerra e mostra a força das mulheres organizadas

16/08/2019
A Marcha das Margaridas 2019  se encerra e mostra a força das mulheres organizadas

No dia 14 de agosto, às 7h, as mulheres foram do Pavilhão do Parque da Cidade, em Brasília, para marchar em direção à Esplanada dos Ministérios, e as nossas margaridas da Bahia, do Portal do Sertão, Bacia do Jacuípe e Território do Sisal se juntaram as outras 100 mil mulheres de todos os cantos do país, trabalhadoras do campo, da floresta e das águas para a grande Marcha das Margaridas 2019. As mulheres foram mobilizadas por diversas organizações como o Movimento de Organização Comunitária (MOC), Unicafes, Ciranda das mulheres, Sintrafs, Rede de Produtoras da Bahia, Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR), Sindicatos de Trabalhadores/as Rurais (STRs) e entre outras. Essas mulheres são a base do movimento em defesa da democracia e da soberania do povo brasileiro, e elas percorreram pelas ruas de Brasília com seus chapéus de palhas, bandeiras, faixas, com suas forças e coragem, assim elas resistem pela terra, água e agroecologia.

A 6° Edição da Marcha das Margaridas é coordenada pela Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), suas 27 Federações e mais 4 mil sindicatos filiados, a Marcha também se constrói em parcerias com os movimentos feministas e de mulheres trabalhadoras, centrais sindicais e organizações internacionais.

Desde o ano 2000, a cada quatro anos, mulheres de todos os estados marcham inspiradas pela história de Margarida Maria Alves, líder sindical assassinada em agosto de 1983 (Alagoa Grande, na Paraíba), por defender os direitos de trabalhadoras e trabalhadores rurais. Desde o seu surgimento a Marcha vem se consolidando e construindo como a maior e mais efetiva ação de luta das mulheres do campo, da floresta e das águas. Esse evento foi um marco para as camponesas e elas levaram á capital federal suas propostas e quereres por um Brasil contra exploração, com soberania popular, democracia, igualdade, livre de todas as formas de violência e em favor da igualdade, autonomia e liberdade para as mulheres.

Os gritos dessas grandes mulheres ecoaram pelas ruas da capital federal do Brasil, que em marcha tecem suas experiências comuns de vida e de lutas, e elas propõem melhores políticas públicas que possam atender as demandas das mulheres do campo, da floresta e das águas de todo o país. É um momento de resistência aos retrocessos sociais, exigência ao fim do racismo e da violência contra as mulheres, e de defesa dos direitos humanos e o meio ambiente. A marcha é uma luta que une muitas bandeiras em um só movimento e tudo isso é pela vida das mulheres.

“Para nós, mulheres do campo, da floresta e das águas, a Marcha das Margaridas tem sido um caminho coletivo de construção de um projeto de sociedade que propõe um Brasil sem violência, onde a democracia e a soberania popular sejam respeitadas, a partir de relações justas e igualitárias. Acreditamos que é possível construir novas relações sociais pautadas nos valores da ética, solidariedade, reciprocidade, justiça e respeito à natureza. Para isso, entendemos que é preciso enfrentar as contradições de classe, transformar as relações sociais entre os gêneros e entre gerações, combater o racismo e o patriarcado, e ressignificar a relação entre campo e cidade para a construção de uma nova sociedade. Isso envolve luta e resistência”, ressaltou a Secretária de mulheres da CONTAG e coordenadora da Marcha das Margaridas, Mazé Morais, na plataforma política disponibilizada no site da CONTAG.


Seguindo a luta diária por um mundo mais justo e democrático, que Movimento de Organização Comunitária (MOC) vivenciou e participou da Marcha das Margaridas. A coordenadora Geral do MOC, Célia Firmo, falou um pouco sobre as lutas das margaridas e da importância de resistir aos retrocessos. “ As Margaridas dos campos e da floresta presentes aqui na 6° Marcha das Margaridas, são as mulheres que movem esse país, são as mulheres das comunidades rurais fazendo com que os trabalhos comunitários continuem acontecendo, são as mulheres da agricultura familiar construindo a alimentação que alimentam o país, são as mulheres do semiárido que lutam e que resistem mantendo o campo com gente e com direitos. Estamos aqui na 6° Marcha para mostrar que esse país precisa respeitar as mulheres e que não exista nenhum direito à menos para elas, e especialmente para as mulheres do semiárido brasileiro, precisamos de políticas públicas, precisamos que essas políticas e os direitos sejam ampliados e não retirados. As Margaridas do Brasil deixaram suas marcas em Brasília, semearam o solo duro da Esplanada com muita energia e amor, agora estão partindo para seus cantos e aconchegos com a sensação de dever cumprido, mas não acabado, pois muitas lutas estão por vir”, destacou Célia Firmo.

“Gostaria muito de agradecer a possibilidade de estar nessa luta com todas essas mulheres maravilhosas. Durante esses dias, vê mulheres com essência, valor, coragem, força e histórias tão marcantes faz minha existência valer e lutar para somar mais uma voz nesse grito. E hoje, Margaridas o cenário é outro que vivemos, uma era de destruição dos nossos direitos e também dos nossos valores, isso é triste, e está aqui dividindo com vocês essa luta me faz querer ser uma semente dessa Margarida que florescerá sempre em minha existência, que nossos corações se fortaleçam e que nosso apoio seja constante. Obrigada por me deixarem ser uma em meio à milhões que voltam para casa com a certeza de que estamos lutando sempre por um lugar melhor para todas e todos nós. Foi maravilhoso esse momento em minha vida”, frisou Elammi Rocha, do município de Cruz das Almas.

“Falar da Macha das Margaridas é gratificante, pois ali pude vivenciar um pouco da luta de Margarida Alves a qual iniciou esse processo e  me colocar como uma Margarida,  onde em 2007 participei como uma liderança e retorno agora em 2019 como representante a nível de território, representando outras margaridas.  Eu voltei fortalecida a continuar lutando, a emoção de ver Brasília lotada com mais de 100 mil mulheres é reafirmar que temos que enfrentar as fronteiras para garantir direito e sermos vistas como gente, como povo que merece ser respeitada e o que estamos reivindicando são diretos garantidos por lei e hoje são totalmente ameaçados”, destacou Lídia Maria, representante do Território do Sisal. 

A Marcha trabalhou com alguns eixos políticos extremamente importantes e realizou oficinas e debates com as mulheres, para que todas elas possam saber o real significado político da Marcha das Margaridas e o real impacto na vida delas, com os seguintes temas: Por Terra, Água e Agroecologia, Pela autodeterminação dos povos, com soberania alimentar e energética, pela proteção e conservação da sociobiodiversidade e acesso aos bens comuns, por autonomia econômica, trabalho e renda, por previdência e assistência social, pública, universal e solidária, por saúde pública e em defesa do sus, por uma educação não-sexista e antirracista e pelo direito à educação do campo, pela autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo, por uma vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo e por democracia com igualdade e fortalecimento da participação política das mulheres.

“A Marcha das Margaridas foi um grande momento e importante na minha vida, primeira vez que participei de um ato tão grandioso do nosso país, onde reuniu mais de 100 mil mulheres, no qual estávamos ali para reivindicar por nossos direitos, essa é uma grande luta para conquistarmos o que hoje estamos perdendo. Então vamos seguir em luta de todas as formas possíveis, para tentarmos garantir mais direitos, pois hoje estamos perdendo todos eles e as mais afetadas são as mulheres. Seguiremos em Marcha, até que todas sejamos livres e ninguém solta a mãe de ninguém”, ressaltou Lediane Cruz, da comunidade de Retirada, da Zona Rural do município de Araci-BA.


Vânia Maria, do município de Cachoeira-Ba, relatou um pouco sobre a sua experiência na Marcha das Margaridas. “Foi um imenso prazer participar dessa marcha a qual nos deixa um legado de luta e capacidade de nos libertar e mostrar que juntas podemos ir em busca de sonhos e vitórias”, ressaltou a margarida baiana.

A Marcha das Margaridas se encerrou de forma positiva e linda, mas é necessário continuarem mobilizadas para que os direitos das mulheres sigam avançando. O MOC, junto com outras organizações, contribuiu para que as mulheres nas suas organizações e bases de atuação com vários processos formativos e sobre a necessidade de participação social nesses espaços de construção e acesso as políticas para a garantia dos seus direitos.

 


Fotos e matéria: Alan Suzart

Comunicação MOC