Relatório de Atividades Anual do MOC 2012

30/08/2017

O MOC e sua contribuição para a Igualdade de Gênero 

Optamos, este ano, por assumir como tema de fundo, no nosso relatório final, a dimensão de gênero. Isso não significa teorizar sobre o papel e lugar das mulheres na sociedade, explicitar teoricamente a naturalização existente de subalternidade nas relações entre homens e mulheres, a dupla ou tripla jornada de trabalho e outras e outras questões que sabemos explicitam ou fundamentam as desiguais relações existentes e com as quais não concordamos. 

Se fosse para tal nos reportaríamos aos muitos e muitos textos existentes, às teses que estudam e aprofundam estas questões e problemas, estudos que apreciamos, mas que não integram, neste momento, o rol de nossas preocupações.  

Nossa reflexão, sem depreciar nada a que nos referimos acima e certamente fundamentado em muitos desses estudos, busca, efetivamente descobrir como o mundo de relações igualitárias entre homens e mulheres se constrói no dia a dia do trabalho comunitário que desenvolvemos, tornando concretas as reflexões e questionamentos sobre a organização de nossa sociedade. 

Evidentemente que, muitas vezes, as pessoas assumem novas práticas e as identificam como integrantes de um novo mundo de relações, sem as estar, necessariamente, relacionando com todas as dimensões de todas as teorias. Simplesmente as pessoas começam a praticar novas relações que integram o novo mundo que queremos construir. 

É assim que os programas do MOC atuam e refletem sua atuação. 

É deste modo que vemos as ações no campo do empoderamento das mulheres e suas organizações especificas, dinamizando sua auto-representação e, a partir dai, sua inserção na construção das políticas públicas afirmativas e sua presença em outras políticas, muitas vezes desprovidas do viés de gênero.  Nasce daí a crescente afirmação, na região, dos Movimentos de Mulheres Trabalhadoras Rurais, as campanhas de documentação, agora inclusive com a perspectiva de documentos que viabilizem mais a participação das mulheres nas políticas de crédito rural, de apoio ao protagonismo na dinâmica dos territórios, e outras; a presença das mulheres nos Conselhos, Comissões e outros espaços onde se constrói e faz o controle social das políticas.


Estrada outra do empoderamento  das mulheres tem sido a geração de renda, muito pelos  Empreendimentos da Economia Solidaria, através dos quais elas se organizam, produzem e beneficiam seus produtos, comercializam e geram renda. No campo de relações mais equitativas, esse processo, ao gerar renda, gera autonomia, aumento da autoestima, relações intrafamiliares mais consistentes, autônomas e equitativas, experiência de liberdade. 

Mas há também outras inserções. Há, por exemplo, aquelas da formação de professores/as, onde se discutem e implementam dimensões de uma educação não sexista, promovendo em sala de aula, a partir de textos, de livros utilizados, das recreações, das tarefas de sala de aula e fora dela,  posturas  de professores/as, meninos e meninas que indiquem a concretização de comportamentos e atitudes nas quais se materializa a equidade de gênero.  

Por ai passam questões como quais são os brinquedos e as brincadeiras de meninos e meninas, os papéis de cada um na escola etc. Há aquelas outras por onde se desconstrói, na comunicação, a imagem do corpo da mulher como objeto de prazer e a postura praticamente venal de mulheres que se expõem e por isso ganham espaço e fama. E, na própria comunicação a construção de outras imagens da mulher, baseadas em valores da fraternidade, da equidade, da justiça, do respeito ao que são, querem e devem ser as mulheres na sociedade.  

Há ainda aquela outra que, na assistência técnica, procura fazer com que o planejamento da propriedade seja realizado não apenas pelo homem e sim pela família, ouvindo-se a atendendo-se os anseios das mulheres, criando oportunidades para que elas se sintam e assumam sua condição de sujeitos.  Neste campo há elementos pequenos, mas que são significativos, como por ex. as mulheres tomarem créditos, decidirem processos da assistência técnica e produção e, de modo especial, um elemento novo que começa a aparecer: o fato de que as mulheres começam a decidir, junto com os homens, o destino e a aplicação dos recursos gerados na propriedade. Deste modo, elas passam de “ajudantes” dos homens no processo produtivo, a co-decidoras no processo de planejamento de suas propriedades, da implementação dos processos produtivos oriundos do planejamento e, mais que tudo, a co-decisão sobre o destino dos recursos. 

Há aquelas outras inserções nas quais pelo debate e implementação da captação e acesso à água no semiárido, se constrói a dimensão de liberdade que as mulheres conquistam pelo fato de não mais terem de dedicar quase metade do seu tempo diário à busca de água para a família, processo este que, por outro lado, abre espaço para o desenvolvimento de outras tarefas e ações e para o debate familiar e  comunitário sobre a quem cabe o abastecimento de água da família, se exclusivamente ao homem ou à mulher ou solidariamente a um e outro. 

Muitas são e seriam os exemplos concertos que demonstram a construção de um mundo onde as relações entre homens e mulheres, ao invés da subalternidade, constroem a equidade, o respeito e a solidariedade. Neles se expressa nossa busca constante de superar a desigualdade de gênero, de construir processos e mundos diferentes.  

São coisas simples, pequenas, na leitura de alguns, talvez até insignificantes. Contudo, como diria Paulo Freire, grávidas de um mundo em que homens e mulheres assumam e vivam suas diferenças, mas delas não façam estradas para um se impor ao outro e explorá-lo. Ao entendermos que estas relações não estão dadas, mas são sócio-culturalmente construídas, estamos e continuaremos na luta, contribuindo para que cada vez mais homens e mulheres se relacionem com igualdade, justiça e solidariedade. 




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