Seminário celebra os 20 anos do Projeto CAT

10/12/2014

Neste 10 de dezembro um Seminário comemorativo aos 20 anos do Projeto CAT- Conhecer, Analisar e Transformar a realidade do campo celebra essa experiência e relembra as melhores vivências desse projeto desenvolvido pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC) em parceria com a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), as entidades da sociedade civil e as prefeituras dos municípios envolvidos. O evento acontece no Centro Social Urbano (CSU) bairro Cidade Nova, em Feira de Santana, das 8:00 às 16:30 horas. 
 
Iniciado em 1994, o Projeto CAT tem mostrado que é possível desenvolver uma metodologia que valorize os sujeitos com seus diferentes saberes e culturas. Em 21 municípios onde o projeto atua, educadores/as e crianças passam a conhecer sua realidade, analisam os dados obtidos e em seguida, após a construção do conhecimento voltado para a realidade local, apresentam à comunidade os resultados para juntos, escola e comunidade, encontrarem as formas de transformar essa realidade.   
 
Durante o ano os educadores/as trabalham em sala de aula com temáticas ligadas ao dia-a-dia dos alunos, isso faz com que eles/as percebam a aplicação prática do conhecimento que está sendo adquirido. No final da unidade letiva ou da ficha pedagógica, os trabalhos que foram produzidos na escola são apresentados aos pais e a comunidade, durante a devolução do CAT.
 
O Seminário é um encontro prazeroso que reune múltiplos atores, com identidades diversificadas e que construíram ou constroem e garantem a qualidade dos resultados do Projeto: Professores/as, Coordenadores/as Municipais, Prefeitos e Secretários Municipais de Educação, representantes de organizações da sociedade civil, representantes dos Conselhos Municipais de Educação, alguns professores/as da UEFS, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), representantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia - CODES da Bacia do Jacuípe e Território do Sisal, assessores e técnicos/as do MOC, enfim, pessoas especiais que contribuíram e contribuem na construção do Projeto.  Uma delas, a coordenadora da UFCG, Maria do Socorro Silva que faz a devolução e socialização dos resultados de uma pesquisa desenvolvida com a UFBA e a UFCG sobre a eficiência, eficácia e principais desafios do Projeto CAT.
 
“Agora, mais fortalecidos pela apresentação dos resultados da pesquisa com a UFBA e a UFCG, podem gritar aos quatro cantos do mundo que a experiência deu certo e poderia dar muito mais se tivesse o apoio de quem poderia ter dado. Soluções temos, inspirações temos, resultados comprovados temos e os autores e agentes transformadores foram os sujeitos do campo, as professoras, as monitoras, as crianças, os adolescentes do campo. Não era, nem é daí que as elites do poder esperariam a mudança!”, ressalta Abdalaziz de Moura, do SERTA-PE, um dos idealizadores do Projeto CAT.
 
Histórico
O MOC percebendo que no meio rural a taxa de analfabetismo era muito maior que no meio urbano e que a raiz desse analfabetismo se encontrava na própria escola básica rural, propôs, no final de 1993, a realização de um Seminário com as Secretarias Municipais de Educação, com a UEFS e com a sociedade civil organizada para apresentar a Proposta de Educação Rural (PER), que já vinha sendo desenvolvida pelo Serviço de Tecnologia Alternativa de Pernambuco – SERTA. A partir dessa Proposta foi feita uma adaptação para a Bahia e criou-se o Projeto CAT, segundo Vera Carneiro, coordenadora do Programa de Educação do Campo, do MOC. 
 
O trabalho do projeto CAT foi iniciado na busca da melhoria da qualidade do ensino, através da formação continuada de professores das escolas municipais do campo e da definição de políticas públicas educacionais para a zona rural. “Vivíamos em um momento cuja conjuntura não permeava alcançar “igualdade” de aprendizagem no Sistema público de ensino entre a realidade Urbana e Rural. Principalmente, porque todo material didático disponível agraciava a realidade urbana e sulista. O CAT, a partir do MOC/UEFS veio com a perspectiva de refletir sobre a concepção de educação política e politizadora no sentido de incluir as crianças em idade escolar em um Sistema que as atendesse no aspecto burocrático da matrícula oficial, no aspecto pedagógico da aprendizagem eficiente e no aspecto político da cidadania crítica e revolucionária na formação do sujeito identificado e harmonizado com a sua realidade, capaz de desenvolvê-la sem excluir o outro”, ressalta a professora Jussara Secundino, a primeira Secretaria Municipal de Educação a implementar o Projeto CAT, oportunizando ao município de Santa Luz atuar dentro de uma proposta que valoriza o homem e a mulher do campo, sua cultura e seu trabalho.
 
“Foi a esperança que nos levou a criar o CAT e quanto mais a gente trabalhou nele - eu por 19 anos - mais a gente sentia que ele era necessário e era bom. Claro que ele é dinâmico, muita coisa já mudou, alguns já não acreditam. Sempre se trabalhou em transformá-lo em política pública em que o município o assumisse, dizer eu quero e fazer acontecer”, afirma Francisca Baptista, uma das fundadoras do projeto.
 
“Para mim o CAT é esse instrumento de conscientização das crianças, dos jovens e das famílias, dos valores que o campo nos oferece e a gente às vezes desconhece ou desperdiça. Então mesmo saindo do CAT eu continuo pensando que ele vale a pena por trabalhar a educação nesse sentido de conscientização do papel cidadão e também dos valores que o campo nos oferece para viver”, conclui Francisca. 
 
Desafios
Vários são os desafios para que o CAT se transforme em política pública, segundo Naidison Baptista, coordenador da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), assessor do MOC e também um dos idealizadores do projeto. Naidison afirma que inicialmente o município deve assumir a proposta de educação do campo como uma política educacional municipal e não como um projeto a mais no espaço geográfico de seu município. “Para isso atuar universalizando sua prática em todas as escolas, inclusive as da sede do município, dotar o processo de pessoal qualificado para seu desenvolvimento, dotar a proposta de recursos orçamentários suficientes e necessários para a formação de todos os seus professores/as, montar uma estrutura capaz de monitorar os processo educacionais e dar suporte pedagógico aos professores neste campo, dotar os profissionais de educação do campo de salários dignos para o desempenho de suas funções, mais exigentes, desde que se decida implementá-lo como política”, ressalta.
 
Naidison enfatiza que paralelamente ainda é preciso adequar seus currículos, quer inserindo disciplinas específicas que digam respeito e relação à realidade do campo, agricultura familiar, quanto inserindo a dimensão transversal da realidade do campo em todas as disciplinas. “Os desafios são grandes, mas não impossíveis de ser superados. Há municípios já com uma lei de educação do campo, mas sem sua regulamentação, sem currículos adequados. O MOC, por sua vez, precisa se adequar mais a esta nova demanda, pois dele muito será exigido. Por ultimo, mas não na ordem da importância, sabermos que se a sociedade civil organizadas nos municípios e territórios não colarem esta questão em suas pautas de luta e busca, dificilmente conseguiremos esta vitória”, conclui.
 


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