Entre sementes crioulas Encontro Comunitário semeou e trocou aprendizagens

11/12/2014

“Quando a gente acredita em Deus vê que as sementes vem do início do mundo e se a gente não preservar vão acabar”, ressalta Sr. Anselmo Francisco da Silva, da comunidade de Mucambo, um dos 80 agricultores familiares presentes no Encontro Comunitário promovido pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC) e parceiros, em Retirolândia, no último dia 09 de dezembro. A reflexão do Sr.Ancelmo vem da sabedoria do homem do campo, da sua observação da natureza e também provocada ao longo de toda programação do evento, desde a abertura com a benção feita pelo Padre Elias (que atua no município), até o encerramento abrilhantado por sorteio de brindes e pelas trocas de sementes entre os participantes.
 
Durante essa ação que é uma das etapas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), os agricultores e agricultoras presentes participaram ativamente e contribuíram de maneira exitosa com as discussões. “Além de ser um encontro celebrativo objetiva avaliar as ações de convivência com o Semiárido do P1+2 e da assistência técnica no município, refletir com as famílias sobre essa convivência e, principalmente, sobre o cuidado, preservação, manutenção e a tradição das sementes crioulas”, ressalta Kamilla Ferreira, técnica do MOC coordenadora do Programa de Convivência com o Semiárido, que apresentou dados numéricos sobre as tecnologias de água de produção construídas nas comunidades da localidade e também chamou a atenção quanto aos cuidados que devem ser dedicados às mesmas.
 
Na decoração do espaço, na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, os símbolos e um mapa do município confeccionado com sementes representavam a convivência com o Semiárido e a contribuição da agricultura familiar para a segurança alimentar. A semente crioula foi um desses símbolos e centro das reflexões instigadas pelo técnico do MOC, Edcarlos Almeida, inicialmente a partir da leitura de uma passagem da Bíblia sobre a criação do mundo.Em seguida com a apresentação de um cordel de sua autoria sobre o tema, fazendo a distribuição de sementes, e, principalmente, trocando saberes entre os presentes levantando discussões sobre os tipos de sementes, sua preservação, como catalogar, armazenar e como manter a tradição com o envolvimento de toda a comunidade através do Banco de Sementes. “Multipliquem a ideia do Banco e lembrem da importância de preservar também sementes de hortaliças, frutas e verduras e não somente do milho e feijão”, enfatizou Edcarlos.
 
“Semente é vida. Continuidade da vida!”, dizia Sr. Joseval Lopes da comunidade de Barreiros, interrompido por Dona Carmelice Sena de Santana, moradora da comunidade de Jibóia e uma das primeiras mulheres a assumir a diretoria do movimento sindical da Bahia: “Nos anos 80 com abundância de chuva lá em Jibóia conservávamos sementes em cilos e trocávamos entre nós. Hoje já não temos por lá essa coisa bonita. A falta de incentivo veio pela falta de chuva, mas temos esperanças que dias melhores virão. Vamos resgatar esse incentivo que o MOC nos deu e vamos montar novamente nosso Banco de Sementes”, declarou.
 
Alegria, trocas e aprendizagens
Na oportunidade, a produtora rural Maria José Rios de Oliveira contou causos, alguns agricultores/as presentes contaram suas experiências e todos conheceram a técnica da “batata da salvação” apresentada por João Nilton Ferreira, um dos diretores do STR local. Durante a programação conduzida pela técnica do MOC Tainá de Lima Matos, um momento para o plantio simbólico das sementes com um pedido, e também para receberem mudas doadas pela Fundação Apaeb. “Essas trocas são importantes e fazem com que as mudas se multipliquem, se diversifiquem, além de nos aproximar mais”, enfatizou Valdetina dos Reis, da comunidade Fazenda Pedrinha.
 
Antes do sorteio de brindes, uma apresentação cultural do Grupo Viva Feliz, composto por 45 mulheres entre 35 e 85 anos de idade, iniciativa do Centro Municipal de Referência em Assistência Social – CRAS, que contagiou a todos com alegria. Seu Roque Félix, morador da comunidade de Lagoa Grande, um dos mais contagiados e também ganhador da galiota no sorteio dos brindes, resumiu o encontro em poucas palavras: “Excelente. Quero em 2015 outro convite desse”, concluiu.
 
Texto e fotos:Maria José Esteves - Comunicadora Popular ASA/MOC